terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

A Moeda

Quando era criança, certo dia, estando na loja de meu pai, fui interpelado por um mendigo que pedia esmola.
Notando os trajes andrajosos do homem, mais que depressa corri à gaveta do balcão e retirei uma moeda, que fui entregar, muito alegremente, ao pedinte.
Meu pai assistiu a tudo, porém nada me disse, continuando, calmamente, a atender a sua freguesia.
Não muito tempo se passou e uma pobre mulher apareceu, fazendo a mesma solicitação.
Não hesitei e corri à gaveta, porém antes que a abrisse meu pai embargou o meu gesto. E disse muito naturalmente:
_ Onde está o cofre onde você guarda as moedinhas que lhe sobram?
_ Aqui mesmo, na gaveta de sua escrivaninha.
_ Então, filho, vá buscá-la.
Eu trouxe o cofre e papai pediu que eu o abrisse. Obedeci.
_ Agora, filho, você vai escolher uma moedinha igual àquela que ia dar...Escolhi.
_ Agora você pode entregá-la à senhora.
Fiz o que me mandava, muito surpreso. 
Quando a mulher se retirou, papai me explicou:
_ Filho, o verdadeiro óbulo, o que agrada a Deus é somente aquele que provém do que é verdadeiramente nosso.
Você agiu certo da primeira vez, só que não deu o que era seu.
É dando que recebemos, mas só recebemos da Misericórdia Divina quando damos o que temos. Compreendeu?
Sim, eu compreendera. 
Ele arrematou dizendo:
_ Você já ouviu as pessoas comentando façanhas alheias e dizendo que a cortesia foi feita com o chapéu alheio? É isso. Eu lhe peço que só use o seu chapéu. E tudo estará certo.
Nunca mais esqueci o episódio, pois foi assim que aprendi o verdadeiro sentido de dar.
A lição permaneceu em mim por toda a vida e tem me ajudado a realizar uma caridade mais autêntica e mais coerente.
            Vallace Leal V. Rodrigues

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